quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Pedro reencostou-se na mesa, era como se precisasse do equilíbrio que havia rejeitado.
Sua simples vida não parecia singela por meio de seus olhares. Ele buscava, a toda instante, sem saber, a complexidade. No fim das contas, não se satisfazia com coisas pequenas.
Nadou contra a corrente até então. Nunca soube se por necessidade, vício ou ambição. Ambição de ser diferente. O comum sempre lhe pareceu entediante. Mas nunca permitiu conhecê-lo profundamente.
Podia contentar-se com sorrisos ao amanhecer, palavras bonitas em momentos do dia-a-dia. Podia, e devia, muitas vezes, tolerar, 'engolir seco'. Nem tudo precisa ser questionado. As coisas às vezes precisam ser como são, simplesmente.
Encontrou em Marina a simplicidade. Encantou-se.
Sentiu falta dos amigos. E descobriu que não foi apenas por aquela piedade que a distância causa. Foi por perceber o quanto o simples é verdadeiro, grandioso e o quanto lhe fazia melhor.
Passou, então, a querer ser simples. A querer ser o melhor para alguém.
Encontrou seu equilíbrio.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Coração na mão como refrão de bolero.

Queria saber se o tempo vem contigo.
Mas quanto mais rápido quero que ele passe, mais lentamente ele faz seu percurso.
Não sei se é você, ou se é esse meu coração fugidio que adora novas emoções, principalmente se estas forem complicadas.
Só sei que está acontecendo, e envolvo-me cada vez mais nesta dança, neste bolero. E talvez o maior problema seja os passos. Os quais eu não sei...
Mas você está me conduzindo, não sei se devo deixar.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Ah, a vida...

Acho fascinante viver.
Essa mudança constante, a falta de controle, confesso que me assustam e que eu as temo às vezes, mas ao mesmo tempo, me encantam.
Me surpreendo quando paro pra analisar tudo o que já aconteceu comigo. Quantos 'eus' eu já conheci, já fui. Sei que quem sou hoje é apenas o início para o meu próximo eu. E fui capaz de perceber isso recentemente...
Eu que sempre quis ter o controle sobre tudo, hoje sei que nunca tive controle sobre nada. Nem mesmo sobre mim. As mudanças chegam de modo tão suave, que só as percebo quando elas acontecem e transformam minha vida.
Ainda planejo o futuro. Acredito que nunca vou parar de planejá-lo. Isso é apenas mais uma das coisas inevitáveis da vida...
Contudo, sei que muitas coisas acontecerão à mim e aos que me cercam. E isso tudo pode mudar completamente meus planos, meus desejos, meus sonhos.

Estou entregue a esse fascínio que é viver.
Com o coração na mão, arrisco-me. Vamos ver no que vai dar!

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Mila (continuação)

Lembram-se daquela crônica (que aliás, eu tinha denominado de conto;perdoem-me pelo erro), Mila, que eu postei há um tempo atrás? Então, fuçando no meu computador encontrei uma continuação que eu havia feito e decidi postá-la. Espero que gostem. ;)

Ah, se João soubesse que Mila o admirava de longe. Que ela achava lindo o modo como ele sorria quando via o irmão mais novo brincando com os coleguinhas no pátio da escola, o modo como ele fechava os olhos quando escutava Wonderwall do Oasis, como ele a olhava profundamente quando ela passava por perto e, principalmente, pela compaixão que tinha pelo próximo. Para Mila, compaixão era o sentimento mais nobre que alguém poderia ter. Amor, achava lindo sim. Mas amar, era instinto. Todo mundo ama algum dia. E compaixão, ah, compaixão é para os raros!Compaixão é ajudar uma velhinha a atravessar a rua, oferecer um abraço amigo quando alguém se encontra em lágrimas, é dizer "eu te ajudo" quando alguém se encontra em perigo...E João, para espanto de Mila, agia assim. Espanto, mesmo. Afinal, todos seus amigos preocupavam-se somente em embebedar-se, em "pegar mais gatinhas" na próxima festa, em marcas de roupa famosa, ou no máximo no "american dream" que todos ali possuiam: virar o novo astro do rap e transar com 1.000 mulheres, pelo menos. Mas João não, João lia clássicos da literatura durante as aulas de matemática (porque as odiava) e dizia sempre ao professor de francês que seu maior sonho era ir à Paris. Nossa, como Mila o admirava por não ter o "american dream" como objetivo de vida!Mila o desejava. Mila queria deitar ao lado dele na grama e fechar os olhos quando escutassem Wonderwall, queria dividir com ele, nos dias frios, o capuccino, durante os intervalos de aula. Queria mais! Queria ouvir por todas as manhãs bobagens no ouvido, queria sentir o seu abraço que sempre parecia tão caloroso e aconchegante, queria que, além de a olhar profundamente, ele a beijasse profundamente!Ela era inteligente, sabia que João a desejava também. Contudo, o medo a impedia. O medo de descobrir que, tudo que sabia sobre ele, não passava de ilusão.
Sabe menina, outra noite eu sonhei com você. Com todas aquelas doces palavras que você me dizia antes de dormir. Só não sonhei com o seu mau humor matinal e o seu desprezo pelos meus presentes de todo fim de semana. É, era assim, você sempre foi assim. Eu procurava sempre ter dar os melhores presentes; aqueles com significados especiais, aqueles que você dizia ter sonhado possuir, até aqueles que te lembravam antigos amores. Mas, quando eu os entregava, você sempre parecia insatisfeita. Nunca disse nenhum "muito obrigada, amor". Pois é, eu também fui me dar conta disso só agora. Acho que essa minha obsessão por você (porque isso não é amor, eu sei), fez com que eu te idealizasse perfeita. Logo você, que é um poço de imperfeição. Era sempre em mim que você descontava o estresse do trabalho. Era olhando nos meus olhos, depois de ter assistido um filme lindo, que você dizia "você me enxe o saco!". Era eu, que você nunca apresentava aos seus amigos como namorado, apenas como um 'conhecido'. Eu encarava tudo isso como brincadeira, mesmo sabendo que não era. Achava que por eu te amar demais, você também me amaria. Era por você que eu vivia. Era por você que eu trabalha 12 horas por dia, de segunda à sábado; era pelo nosso futuro juntos!E um dia eu chego em casa. Você bêbada, deitada com um cara (que tinha quase metade da sua idade, aliás) na nossa cama! Aquela cama que nós nos amamos intensamente. Sua reação?! Olhou nos meus olhos, sorriu e disse "vai embora!".Eu fui. E nunca mais voltei! Nem ao menos pra buscar minhas coisas. Achava bem melhor trabalhar mais 8 horas por dia e conquistar tudo novamente, do que ter que ir lá, olhar-te nos olhos de novo e entrar naquela casa que um dia foi só nossa e, de mais ninguém!Desde então, nunca mais te vi. Nem sei se os seus olhos ainda continuam tão azuis e brilhantes como antes. Se você ainda tem aquela mania de dormir mexendo na fronha do travesseiro, ou se ainda arrota depois de beber refrigerante de cola. Mas menina, obrigada por ter me mandado embora. Se você não tivesse mandado, não iria. Ainda estaria ouvindo todos os teus desaforos e te amando loucamente (melhor, sustentando essa minha obsessão loucamente). Eu achava normal conviver com críticas. Mas, depois que te deixei, percebi que o normal é conviver com elogios. Porque hoje, hoje eu sei,menina...que eu sou bem melhor do que aquilo que você dizia. Só não pense que eu te esqueci. Ainda lembro bem de quando você chegava só de calcinha, andando pela ponta dos pés, colocava suas mãos macias em meus olhos e dizia baixinho no meu ouvido "vamos fazer amor!". Lembro quando você passava batom vermelho e me enchia de beijos só pra depois tirar uma fotografia e rir da minha cara. Lembro do capuccino que me fazia toda noite. Eu lembro, menina. Lembro como se fosse hoje! E, se algum dia eu te amei, foi por isso. Os teus defeitos eram (e ainda devem ser) inúmeros. Mas você me fazia um bem! Um bem que nem a perfeição poderia um dia fazer à alguém.

P.S.: baseado naqueles amores que ninguém entende, que são contraditórios assim como esta 'carta'. aqueles que são um bem que faz mal, ou um mal que faz bem, vai saber...